terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

JOHN WICK | ANÁLISE CINEMATOGRÁFICA



John Wick não é o típico filme de ação. Quando eu o assisti no final do ano passado, na Netflix, gostei bastante, tinha achado ótimo, um puta filme de ação. Mas tinha total desconhecimento sobre como a ideia surgiu, e de como ele foi feito. Foi só quando assisti o trailer do segundo filme, que tinha data de estreia para a metade de Fevereiro, e fui pesquisar mais sobre ele- eu amo assistir making ofs, ver entrevistas dos atores e diretores- que descobri o quanto esse filme é revolucionário dentro do seu gênero, e o quanto ele é importante.

Há tempos os filmes de ação tem um estilo muito único e particular de serem filmados. Filmes como a trilogia Bourne, ou a trilogia Taken (Busca Implacável, com Liam Neeson), são filmados com várias câmeras, de vários ângulos diferentes, e são utilizados muitos cortes como recurso de cena. E mais ainda, tem aquela famosa "câmera tremida" (shaky-cam). Mas não estou aqui para falar sobre esses filmes, mesmo porque eles realmente são muito bons, e duas das minhas trilogias de ação favoritas (Liam Neeson é O cara com habilidades particulares), estou aqui para falar o que John Wick traz de novo.

Assisti várias entrevistas para saber como foi o processo de criação dessa estória e seus elementos. O roteiro chegou para Keanu Reeves (John Wick), que trabalhou nele por algum tempo junto com outro produtor enquanto eles procuravam um diretor. Keanu então apresentou a estória para Chad Stahelski, eles já se conheciam desde a época de Matrix, quando Chad foi o dublê de Keanu durante a trilogia. Stahelski possui uma empresa de "action design", junto com David Leitch, que pode ser descrito como "os caras que produzem as sequências de ação fodásticas", e há tempos procurava um projeto inovador o suficiente que valesse a pena para ser o seu primeiro trabalho como diretor. E assim ele aceitou dirigir o primeiro John Wick, juntamente com Leitch.

É claro que o primeiro roteiro de um filme nunca se mantem igual ao último. No roteiro original do primeiro John Wick a contagem de corpos não passava de 6, enquanto no filme John mata 84. Quando que se vê uma matança desse naipe em um filme de ação? Tudo é tão mascarado, e há mais o "fazer desmaiar" do que realmente matar. E essa é uma das belezas da saga, ela não tem medo de mostrar a violência como ela é no mundo desses personagens. Para fazer isso ser possível, foi feito um trabalho massivo de coordenação de lutas, e manuseio de armas, para que tudo não fosse só violência gratuita, mas que tivesse a credibilidade necessária para as pessoas comprarem a estória. Para o primeiro filme, Keanu passou por 4 meses de treinamento, antes das filmagens começarem, treinando com os melhores coordenadores de luta e dublês, e experts em armas, para fazer John Wick ganhar vida. Alguns desses treinamentos foram: artes marciais, manuseio de armas e tiro, e direção (dirigir com uma mão enquanto atira com a outra).

O treinamento com armas tinha três pontos básicos: sacar arma; transição de uma arma para outra (há muito disso no segundo filme); e rapidez em apertar o gatilho. No youtube há dezenas de vídeos sobre esses treinamentos, e é realmente impressionante ver o quanto de comprometimento Keanu tem. Todos os seus professores dizem o quão focado ele é no aprendizado dessas habilidades, e que não há, no momento, outro ator melhor quando se trata de manuseio de armas. Outra parte do treinamento foi o aprendizado de artes marciais, como jiu-jtsu japônes, brasileiro, e standing judo. Keanu disse em um desses vídeos de making of que aprendeu tudo do começo, porque ele realmente não tinha nenhum conhecimento prévio. Então, o diretor, Chad Stahelski teve a ideia de juntar o manuseio de armas com as lutas corporais e deu o nome de "gun-fu", que é quando John luta e atira praticamente ao mesmo tempo. O conceito disso é meio difícil de explicar, mas se você já assistiu pelo menos um dos dois filmes, percebeu essa combinação de habilidades aplicada em TODAS as sequências de ação. Foi realmente uma sacada muito boa. Mas o que isso tem a ver com a importância do filme para o gênero?

Chad sempre teve uma visão diferente sobre sequências de lutas, e isso se tornou bem visível em seu trabalho de direção nesses filmes. Lembra que eu disse que as sequências de ação são filmadas com múltiplas câmeras e com a câmera tremida? Em John Wick não há nada disso, as sequências são filmadas, sempre que possível, com no máximo duas câmeras e sempre em ângulos abertos aonde se tem visão da cena por completo, sem treme-treme, sem dezenas de cortes. Provavelmente você não notou isso quando assistiu o filme, eu também não havia notado, foi só depois de fazer essa pesquisa sobre o processo de filmagem que descobri esses detalhes, e comecei a pensar o quanto isso torna John Wick um filme diferente de qualquer outro filme de ação que eu, ou você já vimos. Então ao assistir o segundo filme nos cinemas em seu dia de estreia, 16 de Fevereiro, já sabendo de todos esses detalhes, o vi com outros olhos, olhos mais atentos as cenas, olhos mais ávidos pelo brilhante jeito no qual o filme foi filmado. E isso é o que faz com que o filme seja tão importante, pois ele inova no processo de criação e filmagem, e isso estabelece um novo patamar de cenas de ação para os futuros filmes do gênero, fazendo com que as pessoas queiram ver mais do que vemos em John Wick.

Mas John Wick Chapter 2 (Um Novo Dia Para Matar) não é só ação, mesmo porque nenhum filme, seja ele de qualquer gênero, pode ser inteiramente só comédia, ou só ação, ou só drama. Há o humor inserido no meio, e esses pequenos alívios cômicos também fazem toda a diferença para quem está assistindo. Chad Stahelski disse em um entrevista que foi muito importante para o filme ter a comédia inserida, "John mata algumas pessoas e faz você rir, mata algumas outras pessoas com um lápis, e faz você rir de novo", nessa hora todo mundo na plateia da entrevista dá risada, o que "proves a point" (comprova o argumento) de que nada como uma boa risada para deixar a situação mais amena.

Claro, nada disso seria possível sem um protagonista forte e um ator que entregasse o que o personagem pede. E Keanu Reeves faz isso mais do que bem. Em todos os seus filmes, são poucas as vezes em que ele precisa de um dublê, o próprio Chad em Matrix, só aparecia quando alguma cena era perigosa demais para o ator, mas em todas as sequências de luta entre Neo e os Smith's, era mesmo Keanu que estava ali lutando. Não haveria outro ator para esse personagem. O nível de comprometimento, ao dedicar meses de treinamento tático de armas e artes marciais, a atuação no ponto certo entre o drama pessoal de John pela perda da esposa, a agressividade do assassino, e o sentimento de "to tacando o foda-se para tudo", são a combinação de um ótimo roteiro e personagem com a entrega de Keanu para com o filme. 




Por fim, John Wick é um filme para ser visto com outros olhos, olhos diferentes daqueles com que vemos os típicos filmes que contêm ação. Ele serve de entretenimento? Serve. Mas também serve como uma grande sacada cinematográfica, um jeito novo de se filmar, e também de dirigir, pois já em sua estreia como diretor, Chad Stahelski nos apresenta à um mundo diferente e intrigante, misterioso e forte, com um protagonista que, em suas próprias palavras, não poderia ser derrotado por nenhum grande personagem de ação que já conhecemos, fazendo com que John Wick seja o cara mais badass que você vai ter o prazer de assistir, e torcer.

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